As microrredes de energia são uma tendência mundial e na atualidade tem sido tema de ampla pesquisa globalmente, devido a fatores técnicos, econômicos e socioambientais. O Brasil não está para trás nesse desbravamento tecnológico e apresenta a emergência de alguns projetos em desenvolvimento. Porém, desafios regulatórios nos aguardam, cuja superação é necessária para viabilizar, validar e quem sabe um dia ainda consolidar a existência das microrredes.
As microrredes, comumente conceituadas como redes inteligentes ou smartgrids, consistem em sistemas únicos de geração distribuída, com implementação de armazenamento local de energia. Podem operar conectadas à rede elétrica – em tensões de distribuição ou transmissão – ou de maneira autônoma. Entre suas características estão a integração sistematizada de seus componentes e o controle da geração e do armazenamento. No caso mais simplificado, existem alguns sistemas operando de modo isolado na região Norte do país e em algumas ilhas em regiões remotas, porém com aplicação de tecnologia mais simples e sem conexão com a rede.
A proposta das microrredes inteligentes pode impactar positivamente consumidores, concessionárias de energia e o sistema elétrico em geral, com a redução da carga do sistema centralizado. Além de proporcionar soluções, frente ao aumento da demanda energética brasileira e aos problemas com a segurança energética. Nesse sentido, essa inovação configura uma forma de incentivo da integração à rede de tecnologias de geração menos prejudiciais ao meio ambiente (por exemplo solar e microturbinas a gás com cogeração), além do aproveitamento supervisionado da energia gerada, o que evita perdas e agrega confiabilidade.
O cenário atual de efetivação deste tipo de sistema no Brasil é limitado. O tema ainda é experimental no país e carece de uma regulamentação para deliberar especificações e legitimar a existência das microrredes inteligentes. A implementação também depende da característica de liberalização do mercado em que estão inseridas, de acordos técnicos a serem firmados com a distribuidora local e das diretrizes para a rede de distribuição estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Nesse processo, os projetos das microrredes têm recebido investimentos substanciais mundialmente e apontam perspectivas promissoras. A exemplo, a Enel Distribuição Ceará tem promovido por meio do Programa de Eficiência Energética, empreendimentos como o desenvolvido no residencial Alphaville Fortaleza, com geração fotovoltaica anual de 37,98 MWh, monitoramento em tempo real, sistemas de armazenamento em baterias Íon Lítio e economia de cerca de 30% na conta de luz. Já no mundo, a Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) é uma grande referência de microrrede com tecnologia avançada, apresentando autossustentabilidade de cerca de 85% da sua demanda energética.